Quais são os limites éticos que uma empresa não está disponível para ultrapassar, mesmo quando a tecnologia o permite? Essa é uma das questões que os líderes empresariais devem colocar neste momento de salto para a sociedade hiperconectada, disse o advogado e sócio Pérez Llorca Adolfo Mesquita Nunes, na sua apresentação na Vodafone Business Conference.
“Toda a tecnologia, por mais avançada que seja, traz consigo consequências”, afirmou o jurista, que recentemente lançou o livro ‘Algoritmocracia’.
“Mais que rejeitar ou idealizar a Inteligência Artificial ou a hiperconectividade, o que nós precisamos é da nossa consciência humana”, frisou. “De usar a tecnologia com intenção e de garantir que ela serve os nossos valores e não o contrário.”
A reflexão abordou o papel da liderança perante um conjunto de tecnologias que vieram para ficar. “Temos de deixar de ver a tecnologia como um fim em si mesmo e começar a vê-la como um instrumento ao serviço de decisões empresariais mais eficientes, mais lucrativas, mais prósperas, mas também mais justas, mais conscientes e mais eficazes.”
Isso implica questionar até onde podem ir as organizações com os dados que recolhem constantemente dos utilizadores, até quando estes estão a dormir. Por um lado, esta conexão constante abre possibilidades novas de oferecer serviços e o advogado disse que as empresas devem presumir sempre que estamos todos conectados. “A conectividade está a transformar o que significa produzir, ensinar, vender”, salientou.
Por outro lado, é preciso garantir que as redes são fiáveis e resistentes, porque estamos cada vez mais dependentes destas infraestruturas críticas – algo que o “apagão” veio deixar bem claro.
Também há que refletir sobre o poder dos algoritmos, que cada vez mais determinam funções de forma automática. Isso pode ser positivo ou negativo: desde ajudar médicos a detetar problemas cardíacos a enviesar o tipo de conteúdos consumidos online e mesmo a aprofundar desigualdades, por exemplo na atribuição de linhas de crédito ou prémios de seguro.
“Os algoritmos não têm intenções, têm padrões”, frisou Adolfo Mesquita Nunes. “Se não forem as empresas a controlar e rever os dados e garantir a qualidade dos sistemas, o risco é que passemos a ter decisões erradas e discriminatórias”, alertou.
O advogado considerou que se trata de “uma nova forma de poder” que é invisível e integrada na rotina. Isto explica que tenham tanto um lado assustador como um promissor.
“Estes problemas não significam que a hiperconectividade não tenha melhorado as nossas vidas”, referiu. O que os líderes precisam agora é saber equilibrar a ambição de inovar com a consciência daquilo que precisamos, protegendo o valor das empresas, os trabalhadores e as crianças e sociedade.
“O progresso não pode ser medido apenas pela velocidade com que evoluímos, mas pela direção que escolhemos seguir”, salientou. “E garantir que essa direção respeita os valores humanos, sociais e democráticos é o verdadeiro papel da liderança hoje.”
Foto: Gerardo Santos












